segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Paciência - Lenine



Pa-ci-ên-ci-a


Para finalizar todo esse reagir que a disciplina nos propõe, sustento todo o meu pensamento em palavras que, por sua vez, dão suporte para idéias imagéticas bastante interessantes. Daí a escolha do Videoclipe da música de Lenine, sob direção de Hugo Prata. A melodia profunda e a letra densa me persuadiram a conhecer o produto audiovisual, que me chamou atenção para aspectos de intenção, iluminação e cor.

Enquanto se escuta uma narrativa sobre um alguém que partilha conosco angústias e fugacidades da nossa “pós-modernidade”, se vê ações e situações estanques e – paradoxal e simultaneamente – rotineiras. O nadar infindável, o estudo concentrado, a espera ansiosa, o se alimentar despretensioso, o carinho preguiçoso, a fé solitária e a imersão refrescante. Tudo em um silêncio absoluto; um silêncio que grita na letra do autor, uma vez que o fôlego, a meia-luz, o “será-que-vem?”, a hora marcada muitas vezes sem porquês, o estar junto e a credibilidade naquilo que não se vê podem não ser da maneira como se espera ou como se pretende.

A questão aqui é entender o que podemos ou não fazer. E como (não) fazemos. Tais situações sublinham um forjado mundo de movimentos regulares, cativos e incorporados ao Real. No entanto, o que percebo de fato é uma ordem desconexa de fragmentos de almas de corpos que vagam e não se percebem; não vêem a própria ação em um lugar que pede sempre um pouco mais de calma. Em vão. Nada pára e as idéias estão sempre em mutações diárias. Mostra-se, então, entrecortes quase que silábicos do cotidiano nosso.

Esse desassossego ainda é inserido em uma subexposição de luz que deixa tudo mais destacado. Não só os diversos personagens, mas também as cenas do próprio cantor são mostradas envoltas por sombras que (por que não?) podem remeter ao tempo que esmaga todo esse conjunto de um mesmo idioma: não estar nunca parado de alguma forma. Significante e significado são enlaçados nesse momento pelo diretor.

Por fim, gostaria de atentar para a presença marcante do verde ao longo de todo o videoclipe. Se não são elementos reais da cor verde em cada cena (como o abajur, o vestido da mulher, ou as janelas da igreja), o diretor indica um esverdeado uniforme de fundo. De certa forma, ao fim do clipe, o verde está em mim, entranhado e fixo como musgo. Piso, então, – como quase sem escolhas – nesse escorregadio que, por vezes, me faz prender em partes-sílabas. E se alguém me perguntasse uma cor para a palavra paciência, o verde – com certeza - não me escaparia.


Jefferson Carrasco – EC6

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