domingo, 16 de novembro de 2008
Beck - Cellphone's Dead
Cellphone's Dead, videoclipe do Beck, é uma obra artística muito interessante. Cada detalhe do vídeo é pensado pelo valor estético e o conjunto da obra acabou se tornando um exemplar do videoclipe enquanto arte (num nível diferente dos videoclipes que assumem a função comercial). No vídeo de 3 minutos e 45 segundos, o diretor Michel Gondry (responsável por filmes como "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" e videoclipes de artistas como Björk e White Stripes) constrói uma narrativa não-linear sobre o quanto a pós-modernidade pode ser surreal por meio de suas características polivalentes. A narrativa não possui a estrutura início-meio-fim, mas a mensagem é tão concreta quanto uma narrativa linear poderia ser. O vídeo, de 2006, funciona como uma construção artística conceitual, baseada em diversos elementos que dialogam entre si.
Primeiramente, podemos perceber a estética noir e a decoração do cenário, montada com móveis e figurino antigos. O tratamento dado à imagem, em preto e branco e com efeitos que simulam a reprodução cinematográfica, também enfatizam esse posicionamento temporal do vídeo como situado há cerca de meio século atrás. O falso plano sequência cria a impressão de que os acontecimentos do vídeo acontecem encadeados uns nos outros, característica que aumenta o impacto dos efeitos especiais que sugerem mutações surreais dentro do ambiente.
A construção dos efeitos especiais é tecnicamente bem feita e dialoga com a estética antiga apresentada, já que representa uma tecnologia atual, contrastando com o resto dos elementos do vídeo. Esse distanciamento da realidade contemporânea favorece o julgamento do conceito apresentado. Se tal história fosse construída num cenário atual, soaria mais como uma ficção científica vazia do que como uma crítica substancial. Os objetos assumem funções híbridas, como no caso da janela, que é, ao mesmo tempo, uma televisão, e se apresentam como uma grande confusão de funções e possibilidades. Muitas vezes ganham características humanas, sugerindo que a idéia do caos provocado pela imprevisibilidade dos objetos numa realidade onde, aparentemente, tudo é mutável. Com um pouco de reflexão, notamos que esse conceito se aplica perfeitamente à realidade contemporânea e funciona como uma representação visual da confusão gerada pelas possibilidades dessa pós-modernidade líquida.
Michelle Modesto da Silva e Silva
DRE: 107329723
EC5
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