quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Au port - Camille





Duas em uma: tela e personagem. É assim que se estabelece a separação espacial entre Camille e a jovem menina do videoclipe. A divisão da imagem as mostra distantes e ao mesmo tempo em constante comunicação graças ao fio de barbante do telefone de brinquedo. As imagens, muito além de relacionarem-se com o ritmo da música, dialogam e constituem, a partir de então, espécie de luta entre as personagens, apresentando rivalidades de slowmotion, “tempo real” e acelerado, levando a pequena à travessia forçada do oceano, conduzida e imposta pela adulta. Trata-se de, como se diz ao final da música, um ritual de morte da menina - mais precisamente, do seu coração.

O eixo condutor da narrativa, a propósito, é, literalmente, o fio - referência direta ao nome do álbum ao qual a música pertence. O segundo álbum da cantora francesa, "Le fil" (2005) - em português, o fio - , também lembra a pronúncia de "fille"  (menina em francês). Co-produzido pela própria Camille e pelo fotógrafo paquistanês, habitante de Nova York, Hady Sy, o videoclipe me atrai pela fotografia, por seus enquadramentos diferenciados, mas, sobretudo, corresponde claramente ao experimentalismo da cantora principal do projeto Nouvelle Vague que, para mim, se apresenta sonora e imageticamente. Não é só "Au port" que trata de narrativa: todas as faixas do CD começam com uma nota si prolongada, ligando as canções umas às outras.



Suelen Lopes
DRE:107329650
EC6

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