A minha alma - O Rappa

Junte uma banda preocupada em ser a voz de uma minoria, uma letra de forte impacto social e diretores envolvidos em longas e documentários que buscam mostrar os problemas da sociedade brasileira. O resultado é um videoclipe perturbador que traz reflexões a quem o assiste. Uns podem acha-lo realista e maravilhoso, outros exagerado e de mau gosto. Porém ninguém se mantêm indiferente.
O clipe tem aspectos de cinema à medida que conta uma história, possui uma linha cronológica definida. Um início, um meio e um fim que apresentam problemas da cidade do Rio de Janeiro como segurança pública, abuso de autoridade, preconceito e desigualdade social. Tudo isso costurado por uma excelente montagem que alterna momentos rápidos, como nas cenas em que os policiais atacam o rapaz e quando a população se revolta, com momentos mais devagar, como na morte do rapaz e quando o pequeno menino se vê perdido em meio à confusão. No meu ponto de vista os momentos rápidos ilustram o caos da época em que vivemos e os devagar destacam a conseqüência desse caos quase que obrigando a uma reflexão: “será esse o caminho certo?”. Imagens fortes, atores reais e cenários do cotidiano são elementos que dialogam com outro tipo de linguagem, a do documentário. De fato, em muitos momentos parece que você está assistindo um produto audiovisual desse tipo. Cenas nas quais o enquadramento corta alguns personagens e a câmera possui um movimento brusco têm o efeito de colocar o espectador como testemunha ocular de tudo que acontece, como se ele estivesse presenciando os fatos. Quem vê o videoclipe, até hoje, o maior vencedor em uma única edição do Vídeo Music Brasil da MTV, pode associa-lo a alguns longas da recente fase do cinema brasileiro. Pois bem, não é surpresa alguma constatar que os diretores de “Minha alma”, Katia Lund, Breno Silveira e Paulo Lins, alguns anos após o clipe estariam envolvidos em projetos como “Cidade de Deus”, “Era uma vez” e “Maré, nossa história de amor”.

Daniel Morais Parreira
DRE: 107328840
EC5