Estava numa baita dúvida sobre qual clipe escolher. O que mais tem é clipe maneiro e super-bem produzido. Isso não basta: teria que escolher algum que significasse algo pra mim. Foi então que me veio em mente o do Jordy, aquele cantor mirim da década de 90, loirinho, que chegou até a ir no Domingão do Faustão como estrela internacional. O hit dele fala sobre como a vida de um bebê de 4 anos é difícil. Mas, poxa, eu fui um bebê feliz, minha vida era tranqüila. Não estaria sendo honesto com os leitores deste blog, muito bem freqüentado por sinal. Tinha que escolher outro clipe.
Foi aí que me veio o estalo: minha última reação teve como tema a montagem, com foco na subversão da linha temporal como elemento essencial no desenrolar da narrativa. Achei q seria interessante encontrar um clipe que tivesse seu enredo se desenvolvendo de trás pra frente, como se fosse mesmo um filme contado pela letra.
Vieram-me logo na cabeça dois clipes: primeiro, “Sitting, waiting and wishing”, do Jack Johnson. Mas como muito pouca coisa faz sentido nesse clipe, descartei logo de cara. O segundo foi o grande sortudo, o escolhido: “The Scientist”, do Cold Play. O clipe é sensacional, meio deprimente, é verdade, mas esse é o ponto mais interessante: mesmo sendo um clipe, com pouco mais de 4 minutos de duração, envolve o espectador no clima melancólico da música.
Ao perceber que a história contada no clipe e narrada pela letra está de trás pra frente fiquei meio angustiado, querendo saber o que acontecia no final. O que no início parecia ser uma simples briga de casal toma outro rumo e o final se delineia quando Chris Martin canta “come back and haunt me”: meio macabro pra uma simples separação conjugal. “No one ever said it would be so hard” narra a cena que acaba com o suspense do clipe, quando mostra uma mulher supostamente morta. O som, melancólico por si só, ganha mais tristeza com a interpretação oficial (se é que pode haver uma) da música mostrada no vídeo.
O roteiro do clipe dialoga diretamente com uma maneira de fazer filmes consolidada, com grandes títulos como “Camisa de força”, “Ponto de vista”, “Amnésia” e “O terceiro olho”. Assim como nestes filmes, o espectador assume papel de detetive e tenta juntar as peças do quebra cabeça dado pelo clipe, pela letra da música. Além da melodia, o enredo desenvolvido durante o “filme” atrai a atenção de quem está assistindo, nem que seja por uma única vez.
Há quem não goste de ver filme repetido: para esses, vale ver de novo pela excelente música. Para quem já viu várias vezes (eu!), com certeza fica a dúvida na cabeça: como diabos o Chris Martin fez pra cantar a letra ao contrário na hora de gravar o clipe? Mais fácil andar pra trás.
Renan Sampaio
EC-5
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