Escolhi o videoclipe da música Devolve Moço, da cantora brasileira Ana Canãs, dirigido por Fred Ouro Preto, Carina Zaratin (estes já do ramo da direção de videoclipes e parceiros) e Flávio Rossi (cartunista). A música pertence ao CD Amor e Caos, da cantora, datado de 2008.
Este clipe traz alguns aspectos visuais muito interessantes, que vêm a justificar a minha preferência por ele. Numa visão geral, a atenção é focada para as animações usadas num plano mais aberto. Porém, num plano mais fechado, quando é mostrado o rosto da cantora, de perfil ou não, a animação se torna um recurso sensorial, provocando, não uma ilusão de ótica de fato, mas um estranhamento: um rosto com outro rosto desenhado e se mexendo! Além deste recurso, o auge do clipe neste ponto é a combinação da animação em si com o efeito de stop-motion (com fotos de Dani Gurgel), que é uma espécie de animação onde os modelos são movimentados e fotografados quadro a quadro e “postos em movimento” de acordo com a velocidade com que são mostrados. Este recurso dá toda uma delicadeza ao vídeo, uma imagem lúdica, o que remete à cantora de 27 anos, que tem cara de menina.
Outro ponto que se deve tocar ao falar de Devolve Moço, é a posição da câmera em plongeé em grande parte do clipe. Isto explicita a relação da cantora com a câmera: a “personagem” sabe seu lugar e reconhece a presença da câmera. Há uma “brincadeira” da artista fazendo “caras e bocas” para ela. Ainda sobre esta relação, observa-se que o movimento da câmera em alguns momentos acompanha a dança da cantora. Além disso, em dado momento, a batida da música acompanha os cortes, como por exemplo, as partes dos sapatos. Há uma sincronia da batida com este momento e com um outro, quando a cantora bate no tambor, além do começo do clipe, com o movimento da câmera, a fumaça e a música.
Além das questões de câmera, efeitos de animação e sincronia de movimentos, ações e música, Devolve Moço traz um pequeno trecho com intertextualidade. Logo nos primeiros segundos do clipe, a cantora troca de chapéus e se move através do efeito de stop-motion, fazendo referência, ou pelo menos levando o espectador a lembrar do clipe Ideologia do cantor Cazuza, no qual ele, cantando, aparece com diversos chapéus. A semelhança se restringe aí, pois no trecho a cantora não aparece cantando e no clipe de Cazuza, o efeito parece não ser de fato stop-motion, mas cortes e montagem bem feitos a fim de passar a idéia de que o cantor está cantando enquanto os chapéus mudam, apesar da nitidez com que os percebemos.
Por fim é válido lembrar que o videoclipe desta música é meramente visual, imagético, já que não apresenta nenhum fio narrativo, nenhuma relação (explícita) entre a letra da música e a imagem que ela mostra. Esta relação letra/imagem é muito sutil e restrita a pouquíssimos trechos. Porém, não se pode esquecer da reação que ele provoca no espectador pela sua diferente forma de tratar a imagem, misturando animação a imagens reais e a interação entre elas. Em suma, este clipe é uma reunião de atrativos visuais.
Anny Ribeiro Souza
DRE: 107328955
EC5
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
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