segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Cinerama ECO-UFRJ apresenta "Tela Lusitana: cinema português ontem e hoje"

Para descobrir Portugal

Em se tratando de um país com o qual possuímos relações que ultrapassam os 500 anos de história, é surpreendente que saibamos muito pouco ou quase nada do que tem sido feito em Portugal, hoje, em termos de cultura midiática (cinema, música, televisão). Para além dos discursos que pensam Portugal como sinônimo de tradição (literária, gastronômica, religiosa) ou que representam a cultura portuguesa a partir de determinados elementos da ordem do estereótipo e do clichê (o fado, o bacalhau, o vira, as mulheres de bigode, o Seu Manoel da Padaria, Roberto Leal - a lista se estende até o infinito...), o desafio proposto pelo ciclo Tela Lusitana: cinema português ontem e hoje, é o de enxergar um Portugal contemporâneo, em que determinados quadros de modernidade convivem, às vezes tensa, às vezes harmonicamente, com as "formas tradicionais" a partir das quais costumamos pensar a cultura portuguesa.

O cinema português é uma esfinge que apenas eventualmente temos a oportunidade de decifrar, seja em Festivais e Mostras esporádicas (em que reina o desisteresse por parte do grande público), seja quando do lançamento da última produção de Manoel de Oliveira, o mais velho realizador ainda em atividade (100 anos completados em 2008) e único diretor português a ter sua obra exibida com regularidade no Brasil, embora restrita ao circuito alternativo. É fato que o volume da produção portuguesa é reduzido (em Portugal, são produzidos cerca de 12 filmes por ano, e lá, à época da ditadura salazarista, houve um hiato semelhante ao verificado no Brasil entre as décadas de 80 e 90): ainda assim, resumir o cinema português à estética de Manoel de Oliveira é desconsiderar a pluralidade criativa de uma cinematografia onde há espaço tanto para a experimentação de linguagem mais radical (caso de Recordações da casa amarela, do iconoclasta - e saudoso provocador - João César Monteiro) quanto para um eficiente exercício na seara do cinema de gênero (caso do terror Coisa ruim, relativo êxito de bilheteria na Terrinha em 2006). Além dos filmes já mencionados, o ciclo Tela Lusitana apresenta também duas crônicas sobre solidão e perda ambientadas em uma Lisboa muito além do cartão postal (o soturno Alice, de Marco Martins, e o transgressor Odete, de João Pedro Rodrigues), acrescidas de um autêntico poema visual sobre a questão da imigração (Lisboetas, de Sergio Treffaut), documento indispensável para se pensar as relações sociais e de poder que configuram a Europa hoje.

Tiago Monteiro

Nesse mês de setembro o Cinerama apresenta a mostra Tela Lusitana, com diversos filmes da produção portuguesa cinematográfica contemporânea. Os filmes são:

11/9 Alice (Marco Martins)

18/9 Lisboetas (Sergio Treffaut)

25/9 Coisa Ruim (Tiago Guedes e Frederico Serra)

2/10 Recordações da Casa Amarela (João César Monteiro)

9/10 Odete (João Pedro Rodrigues)


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Às 18.30, no auditório da CPM-ECO (Av. Venceslau Brás, n. 71, [Botafogo], campus da Escola de Comunicação da UFRJ - Rio de Janeiro/RJ).